terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mais um texto que não é meu, mas que achei por bem reproduzir aqui

Tá Reclamando do Lula? do Serra? da Dilma? do Arruda? do Sarney? do Collor? Do Renan? do Palocci? do Delubio? Da Roseanne Sarney? Dos politicos distritais de Brasilia? do Jucá? do Kassab? dos mais 300 picaretas do Congresso?




Brasileiro Reclama De Quê?

O Brasileiro, muitas
vezes, honrando as exceções que a cada dia, graças a Deus,
aumentam, tem um comportamento mais ou menos assim:

1. - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.

2. - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.

3. - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.

4. - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura.

5. - Fala no celular enquanto dirige.

6. -Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.

7. - Pára em filas duplas, triplas em frente às escolas.

8. - Viola a lei do silêncio.

9. - Dirige após consumir bebida alcoólica.

10. - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.

11. - Espalha mesas, churrasqueira nas calçadas.

12. - Pega atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho.

13. - Faz "gato" de luz, de água e de tv a cabo.

14. - Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.

15. - Compra recibo para abater na declaração do imposto de renda para pagar menos imposto.

16. - Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.

17. - Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10 pede nota fiscal de 20.

18. - Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes.

19. - Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.

20. - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.

21. - Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas.

22. - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca.

23. - Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.

24. - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.

25. - Freqüenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.

26. - Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, lápis.... como se isso não fosse roubo.

27. - Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha.

28. - Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.

29. - Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem.

30.. - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

E quer que os políticos sejam honestos...

Escandaliza- se com a farra das passagens aéreas...

Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo ou não?
Brasileiro reclama de quê, afinal?

E é a mais pura verdade, isso que é o pior! Então sugiro adotarmos uma mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde for necessário!

Vamos dar o bom exemplo!

Espalhe essa idéia!

"Fala-se tanto da necessidade deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores (educados, honestos, dignos, éticos, responsáveis) para o nosso planeta, através dos nossos exemplos..."

Amigos!
A mudança deve começar dentro de nós, nossas casas, nossos valores, nossas atitudes, NOSSOS PRINCÍPIOS..

domingo, 15 de janeiro de 2012

Toc Toc

Quem não tem algum tipo de mania? O Transtorno Obsessivo Compulsivo, TOC, é o nome técnico das manias e neuroses que são centenas. Isso pode ir de lavar as mãos duzentas vezes por dia a conferir outras mil se a torneira ficou fechada ao sairmos de casa. Ontem eu ri feito maluco assistindo TOC TOC, em cartaz
somente até o dia 28 de fevereiro no Teatro das Artes do Shopping Eldorado.
Um elenco ótimo e situações engraçadíssimas.
Demorei a ir, estava no Teatro Gazeta e agora no das Artes. Quem quer rir DEMAIS não pode perder isso por nada.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Deus e Eu. Parte II


Oi, Deus. Tomei a liberdade de conversar com o senhor de novo, depois de tudo o que o senhor me disse outro dia.  E como eu já sei como o senhor faz, não vou aqui ficar forçando respostas, tá bem?
-...
- Hoje eu fiquei triste e com medo, muito medo. Aliás, acho que nem foi medo, foi uma coisa ruim. É que estou sozinho em casa, sem ninguém pra conversar, com saudade dos meus que estão de férias. Estou também preocupado com meu filho, sabe Deus, ele é tão esforçado e está experimentando uma decepção. Ou eu estou. Coisa de vestibular, sabe Deus?
-...
- Ele esteve fora do país, aprendeu outro idioma, voltou pra cá, passou de ano, mas não foi lá super bem no vestibular como desejava. Escolheu uma coisa difícil, sabe? Acho que o senhor gosta de engenharia, não gosta? Os engenheiros constroem coisas, estudam os fenômenos, combinam forças, elementos e energias e mudam um pouco o mundo. É isso que ele deseja ser, mas é um pouco difícil, né?
-...
- Mas eu fiquei hoje muito preocupado, até chorei um pouco. Sabe o que é? Sou meio medroso, tenho preocupação com coisas que acontecem ou que nem acontecem, sem que eu saiba por que.
-...
- Vou explicar para o senhor: digamos que eu receba uma conta atrasada; odeio atrasar contas, pago tudo em dia, odeio ficar devendo, ficar com o que não é meu, sabe? Aprendi isso com meu pai, muito bravo. Ele me dizia que o que é meu é meu, mas o do outro é do outro e eu levo isso a sério.  Estou certo, não estou?
-...
- E quando aparece um aviso me ameaçando com um tal de SPC? O senhor sabe o que é isso, não sabe? Como sujar o nome da gente assim, de graça, sem que a gente sequer sabia que tinha uma conta atrasada? E de dez reais! Mixaria, né Deus?
-...
-  Morar em condomínio é isso, algumas contas não aparecem na caixa e a gente ainda quase fica de nome sujo. Por isso coloquei tudo no débito automático. Seu filho disse aqui um dia que é para darmos a César o que é de César. Eu sou César de nome, mas não faço muita questão que me dêem minhas coisas não... tomo prejuízo que só vendo. Melhor do que prejudicar os outros, o senhor não acha?
- ...
- Ah, tá bem, esqueci que o senhor prefere ficar quieto quando eu desato a falar.  Desculpe estar incomodando, mas é que hoje eu, mais uma vez, fiquei encucado, com medo de perseguição.
- Esse medo me acompanha há tanto tempo, Deus... já gastei alguns milhares de reais em terapia, mas não melhorou muito não, ajudou. É que qualquer comentário negativo sobre mim, qualquer crítica, qualquer notícia ruim, tudo eu acabo me colocando como o culpado número um por ter acontecido. Isso é meio loucura, não é Deus?
-...
- Por exemplo, hoje o telefone da empresa não aceitou que eu ligasse para meu próprio celular... uma mensagem estranha dizia que meu número foi bloqueado.  Me deu um medo... comecei a pensar no que eu teria feito de errado sem querer, para meu número ser bloqueado. Afinal, por que senti isso? Tenho certeza que tudo o que faço é certo, quero fazer bonito. O senhor sabe me dizer se é mania de perseguição?
-...
- Tá bem... sabe, Deus, meus amigos me disseram que isso é defeito e o técnico disse que essas coisas têm acontecido ultimamente com outras pessoas. Mas não consegui ter sossego. Que sofrimento eu carrego sendo assim, meu Pai. O senhor não tem pena de mim?
-...
- Tá bem, desculpe de novo. Estou falando feito matraca outra vez. Fui ao Centro Espírita, pra ver se recebia um passe, mas cheguei atrasado,  chuva, saí tarde da empresa... a moça de lá já me recebeu se despedindo... a sessão havia acabado mais cedo e eu cheguei tarde. Culpa minha, não é Deus? Eu sei que foi culpa minha.
-...
-  A moça me olhou e disse que eu estava com uma cara triste. Ela nem me conhece direito, mas disfarcei e disse que não era nada. Não queria incomodar uma pessoa que já estava se preparando para sair. Ela é tão simpática e deve ter coisas à beça pra fazer, não é Deus?
-...
- Cheguei em casa sozinho, claro, fiz um miojo e tomei um calmantezinho pra desacelerar o coração, faz bem, o senhor não acha?
-...
- Liguei para minha família... falei da minha aflição à minha esposa que, coitada, já me conhecendo como poucos, respondeu: “ já vai começar de novo, né?”
- Ah, meu Deus, como eu gostaria de não ser assim, de achar que essas coisas acontecem com qualquer um, que meu filho tem o direito de nem sempre ser vencedor absoluto...
- Eu tenho certeza que nunca me aproveitei de nada que não fosse honesto... estou certo, não é Deus? E se fiz alguma coisa meio errada num passado distante, já paguei com juros, isso estou certo. E se ainda faço, é de bobeira pura.
-...
- Sentei no sofá da sala e me abracei. Foi ali, quieto, com  um pouco de medo, que me acalmei. Fui buscar o senhor dentro de mim, como o senhor me ensinou outro dia, para ver se esse fogaréu de medo refrescava um pouco.
- Deu certo, sabia Deus? Comecei a ter umas sensações boas, daquelas que vêm sem palavras, mas que fazem muitas coisas ter sentido. O problema é que minha cabeça continuava ciscando no medo. Quando eu vou me livrar de vez  disso tudo, Deus?
- ...
- As pessoas que convivem comigo nem imaginam que sofro desses assaltos que  me tiram do foco. Disfarço bem. Acho que já falei muito. Desculpe se lhe incomodei de novo. Acho que vou dormir, o remédio está fazendo efeito.
- Você não me incomoda. E não vai dormir agora, já que me chamou.
- O senhor falou comigo de novo? Que legal!
- Eu já falei quando você estava lá no sofá. Agora estou apenas usando palavras. E desejando que as divida com mais alguém que possa precisar.
- Obrigado, Deus.
- Aquiete-se sem pensar em nada. Deixe-me dizer umas coisas.
- Claro, deixo sim.
- Então deixe. Sossegue.
- Opa.
- Opa digo eu. Acalme-se ao menos um minuto e acredite que estou dentro de você e nunca saí daí.
-...
- Filho meu, seu dia foi normal. Você é pago para produzir e fez isso hoje. Você é pago para resolver problemas e criar soluções e tenho certeza que fez isso hoje de sua melhor maneira. Sua vontade é acertar.
- O seu problema é ficar seguindo o que disse o Sartre, aquele francês que andou por aí no século passado e falou uma coisa muito interessante: “o inferno são os outros” .
- Você vive nos outros. Aliás, você não vive, você sofre nos outros. Só existe uma coisa quanto aos outros que deve ser levada em conta: não fazer a eles o que não quer que eles lhe façam.
- Você tem seus demoniozinhos e anjinhos aí dentro. Eu fiz você assim, mas só sobrevivem aqueles que você alimentar. Você já leu isso algumas vezes.
- Você fala demais. Julga os outros quase o tempo todo. Quantas vezes lhe peguei se arrependendo de julgar no exato momento em que julgava? Bom, pelo menos isso é  sinal de que está se vigiando.
- O problema é que, com isto, você acha que os outros estão o tempo todo lhe julgando e com os mesmos valores que traz consigo e que lhe denunciam, condenam e lhe jogam na prisão sem direito à defesa. Eta imaginação fértil essa que lhe dei, mas como é mal administrada!
- Acalme-se. Ficar sozinho em casa é uma boa oportunidade para conversar comigo. Eu sempre vou lhe responder, mesmo que não use palavra alguma, você sabe que o fluxo de calor e alegria que conseguimos atingir juntos é impressionantemente agradável. É bom de verdade. Lembre-se do sofá.
- Nossos filhos, e eu os tenho aos bilhões, se decepcionam todos os dias e aprontam também...isso é crescimento, é experiência. Quantas vezes você já se decepcionou de verdade? Não estou falando de neuroses provocadas pela influência da sua atual condição, estou falando de sofrimentos reais... vai me dizer que não se decepcionou quando seu primeiro filhinho, com apenas um dia de vida, voltou para a pátria de onde veio?
- Você acha que eu não fiquei triste por você e por sua esposa? Claro que fiquei, mas afaguei o menino de forma ainda mais forte e o vejo todos os dias se tornando um ser de luz. Na época você  quase morreu de falta de ar porque não sabia nem chorar.
- Até agora você não entendeu o que houve. Um dia, quando você menos esperar e deixar que eu fale dentro de você, a compreensão virá. E acredite, compreender é muito melhor que entender, falei isso da outra vez.
-  Esse momento que seu filho está experimentando nos estudos  é crescimento. Cabe a você deixá-lo crescer, sem estragá-lo com pena. Apoie-o, curta-o e respeite-o. Ele tem seu tempo e sua vida. Você está aí para ampará-lo, não julgá-lo, pois eu não faço isso com você.
- Buscar ajuda no centro espírita não é mau negócio, mas buscar pena dos outros é inútil. O máximo que você vai conseguir é fazer uma pessoa de bom coração se preocupar por não poder lhe devolver a alegria, pois vê a tristeza de seus olhos e nada pode fazer, sabe por que?
- Porque sem me acessar, nenhum apoio externo é válido. Acesse-me como já aprendeu a fazer e a ajuda externa, os passes, a confissão, a terapia, o joh-rei, o sal grosso e até mesmo o remedinho controlado que você anda tomando, lhe poderão ajudar. Mas é só ajuda.
- A verdade mesmo vem é de dentro, vem de mim, que lhe fiz, que moro dentro de você e dentro dos que podem lhe ajudar. Só que se sua mente não sossegar, se sua conversa interna não se acalmar, eu fico esperando dentro de você e dentro de quem quer que queira lhe ajudar, por maior que seja a boa vontade da pessoa.
- Que medos são esses das contas atrasadas, das mensagens na caixa de correios, das gravações do telefone, dos recados urgentes ou de spams no e-mail? São medos de coisas que você até pensou em fazer, mas acredite, NÃO FEZ.
- Demoniozinhos e anjinhos convivem aí dentro, já lhe disse, para que você possa fazer suas escolhas com seu livre-arbítrio. Eu estou o tempo todo lhe aquecendo, mas desde que me acesse, que respire fundo, feche sua porta como ensinou me filho Jesus e ore em seu aposento, que é seu interior, o melhor lugar do mundo.
- Nesse momento, demoniozinhos e anjinhos se aquietarão, pois uma voz mais alta e sem palavras vai se levantar e colocar água fresca nessa fervura de medos, ansiedades, neuroses, preocupações e remorsos.
- E não espere que essa sensação gostosa dure para sempre sem esforço. Você não consegue segurá-la racionalmente, mas só com o coração. E essa sensação não se mede em minutos, pois eu não trabalho com o tempo. Isso para mim não existe.
- Sinta o impacto da felicidade que eu lhe dou, como a força de um relâmpago. Como fiz ali no sofá. Veja o tamanho de seus atos e deixe de se achar onipresente e onipotente, isso é para mim.
- Pratique o desapego, pois seu medo é de perder o que não lhe pertence. Nada é seu, lembra-se?  Eu lhe emprestei tudo e não lhe contei nem vou lhe contar quando vou chamá-lo de volta. E pelado. E sozinho.
- Depois de tudo isso, ainda vai perder a chance de ver as belezas que existem aí por causa de cartas de cobrança, manias de perseguição ou porque “os outros” de Sartre pululam dentro de você?
- Você verá que sua vigilância que alimenta os anjinhos e leva a inanição aos demônios faz sua luta ser profícua. Nesse momento, você vai perceber que o universo não se prejudicou por nenhum ato seu. Você é só você, nada mais.
- Não se culpe por pensamentos esquisitos e eventuais fantasias. Isso é coisa da mente. Ela foi criada para isso. A maior virtude está em não fazer a ninguém o que não quer que lhe façam. Se isso está em dia, deixe que se abra uma janela para sair esse fluxo de neurose e entrar uma lufada de ar fresco que eu conduzo para dentro de você. É um instante só. É um pequeno momento no qual você se dá conta de que só está neurótico porque quer, porque o “inferno é o outro”.
- Haja o que houver, seja o que estiverem fazendo com você, viva. Meu filho mais perfeito, que não precisava descer à carne a não ser para ensinar, foi caluniado, cuspido, machucado e é pura Luz. E me dá tanta alegria.
- Isso é o que eu desejo para você, mas não posso abrir mão de inseri-lo nesse turbilhão de coisas. Apenas aconselho: não se apoquente com o que não é real,  porque de realidades e sofrimentos a vida já tem um quinhão bastante competente para ser balanceado com as maravilhas que também estão aí.
- Escolha ser feliz. Faça isso quando estiver com medo dos “outros”, porque se seguir a única lei que realmente vale, você  não terá motivos para ansiedade. Viva como os lírios do campo que não tecem nem fiam, mas que se vestem melhor que Salomão. Aliás, nessa passagem meu filho Jesus mandou muito bem.
- E vá a um parque de diversões, assista uma comédia, encare um sorvete daqueles enormes e faça uma reflexologia, tudo isso de uma vez. E na hora em que estiver dando risada pra valer, lembre-se que estou dentro de você me divertindo.
- Senhor, estou sem palavras. Acho que vou dormir sonhando com essas coisas.
-...

domingo, 8 de janeiro de 2012

Eu e Deus







Outro dia li um livro onde o autor conversava com Deus.  E como falavam. 
Perdi a conta de quantos diálogos maquinei comigo ou com minha mente nessa vida.
 Como gosto de escrever,  resolvi também reproduzir meus diálogos resumidos com Deus. Se Neale Donald Walsch, autor de “Conversando com Deus” achar ruim, paciência.
Espero que ele tenha compaixão por um sujeito que se mete a escrever mas não tem, nem de longe, a pretensão de ser um escritor como ele. Vamos à conversa, então.

- Olá Deus. Tudo bem?
- ...
- Er... desculpe incomodá-lo, mas o senhor não me respondeu.
- ...
- Tá bem, desculpe. Acho que não estou sendo conveniente, não é?
- ...
- Não é?
- ...
- Hm... vou tentar de outro jeito: Pai nosso, que estás no céu, santificado seja vosso nome...
- ...
- Seja feita vossa vontade...
- ...
- Nossa... devo estar fazendo algo errado. Pelo jeito,  o Senhor, nesse silêncio todo, só me leva a concluir que os agnósticos estão corretos. Ponto final.
- ...
- Eu disse PONTO FINAL.
- ...
- Lá lá lá... não estou nem aí... lá lá lá... não quer falar, não fale.
- ...
- Sabe o que é? Não vou esperar resposta nenhuma, vou falar assim mesmo... ando encucado com um monte de coisas: porque existimos, porque estamos aqui, porque somos tantos num planeta que não suporta mais a gente, porque nunca sabemos se há mais alguém nesse espaço todo que dizem ser infinito... aliás, deve ser infinito mesmo, porque se tiver um fim, o que haverá depois?
- ...
- Por que o senhor fez a gente?
- ...
- Já sei, pra não ficar sozinho...
- ...
- Mas se o senhor é tudo, não precisava de companhia.
-...
- Aliás, eu não acredito que o senhor seja do jeito que me ensinaram no catecismo, sabia? Aquele senhorzão barbudo, sentado eternamente num trono lá no meio das nuvens, mandando raios e trovões, castigando quem não vai à missa aos domingos, monitorando palavrões que os menininhos feito eu aprendiam a falar, tomando conta do que fazíamos escondidos brincando de cabra-cega com as meninas, comendo hóstia, furando besouro com agulha...transando com galinha... não que eu fizesse isso, mas o que vi de menino fazendo isso na roça... e as coitadas morriam depois. Será que aqueles meninos, hoje pais de família, já estão com suas vaguinhas no inferno?
- ...
- E quer saber mais? Não acredito nessa história de diabo não. Aqui na terra tem tanta igreja que fala no diabo! Outro dia escutei num programa de tevê um sujeito que falou a palavra diabo umas cem vezes e a palavra Deus umas quatro.
-...
- Por que será que o senhor iria criar ou permitir que um outro ser fosse tão poderoso como o senhor e levasse suas alminhas, filhas suas, para um lugar calorento, cruel, por toda a eternidade, só porque faltaram a umas missas no domingo ou falaram meia dúzia de palavrões ou transaram com algumas cabritinhas? Explica isso pra mim, por favor. Eu espero.
- ...
- O mundo é cheio de coisas que se mexem, cheio de bichos feios, pequenos e grandes, alguns até venenosos, todos comendo uns aos outros. A natureza, quando a gente vê naqueles documentários da discovery, mete um medo danado... por que o senhor criaria uma coisa assim tão violenta?
- ...
- Tá bom, pode ficar caladão aí, eu sei que não mereço resposta mesmo, sou um bostinha n’água... um coitado... um nada... o senhor não tem pena da minha insignificância, nem vai me mandar, pelo menos, calar a boca?
- ...
- Agora eu vou pegar pesado então: por que minha sobrinha, de apenas seis anos, teve de ir dormir chorando outro dia e eu tive de lhe contar historinhas malucas para distraí-la, porque estava ela morrendo de medo da retrospectiva de 2011? Por que o senhor deixou tantos barrancos desmoronarem, tantas pessoas morrerem, tanta chuva exagerada, tanto acidente, tanto crime?
- ...
- Ah...pergunta clássica:  por que uns nascem aleijados, faltando membros, outros nascem em berço de ouro, uns nascem na Somália e outros no Canadá? Por que existem baratas, pulgas, amebas e bactérias que provocam doenças?
- ...
- Tá bom, não tem resposta... então por que a lavadeira que cuida da minha roupa teve uma filha com paralisia cerebral  que morreu aos treze anos depois de uma luta danada sendo levada pela mãe no colo pra baixo e pra cima? E por que a mãe dela, antes mesmo da menina morrer, pegou lupus e está que quase não consegue mais trabalhar pra sobreviver?
- ...
- Eu falei que tinha muitas dúvidas... porque os políticos exploram os eleitores, que votam neles em troca de dentadura? E por que eles continuam cada vez mais ricos e poderosos, enquanto nem a verba para as enchentes e desastres é levada para onde precisa?
-...
- Tem mais... por que crianças morrem, por que morreu o Betinho, que mesmo com AIDS, fez uma campanha que juntou toneladas de comida para os pobres e por que permanecem vivos uns certos políticos que só sabem desviar para si o dinheiro do povo? Por que o senhor deixa isso acontecer?
- ...
- Quer saber? Desculpe se estou sendo grosso, mal-educado ou o que for, mas não acredito que a gente tenha sido feito sob sua imagem e semelhança. Tem muita coisa diferente só aqui na terra mesmo, pra que o senhor tenha feito apenas um ser parecido com o senhor.
-...
- Nem provocando eu consigo fazê-lo falar... pois eu acho que a gente é só uma mistura de acasos, moléculas que se juntaram numa dança magnética que deu no que chamamos de vida e que vai acabar num estalo. Ou quando o sol inchar e torrar essa coisa toda. Ou quando os talibãs conseguirem suas ogivas nucleares e as apontarem para o ocidente.
- ...
- E fica todo esse povo rezando, olhando pra cima... que cima... que baixo... não tem em cima, não tem embaixo, é tudo a mesma coisa... estamos numa bolinha de nada, um cisco de coisa nenhuma, rodopiando no meio de um monte de outras muito maiores e muito menores, tudo girando num espaço que mistura tudo. E deu.
- ...
- E tem outras coisas...  tudo nasce e morre, tudo...e a gente ainda tem consciência de que vai morrer, que vai acabar... inveja do macaco que não sabe disso!  Pra que sofrer desse jeito, pra que essa busca desenfreada pela sobrevivência, se no fim vai acabar tudo mesmo?
-...
- Nunca vi ninguém que morreu voltar pra contar se está vivo em algum lugar. Morreu, acabou. Igual quando fui operar outro dia e tomei uma anestesia geral. Não vi nem senti nada, coisa nenhuma. Foi um silêncio só. Quando voltei, me disseram que se passaram mais de duas horas e eu nem tchum. Morrer deve ser isso, com a diferença que nesse caso eu voltei e nem sei o que aconteceu.
- ...
- Tem gente que diz que fala com o senhor. Outro dia vi um filme no qual o senhor emprestou seus poderes a um homem e ele bagunçou tudo. Num outro, sei lá o nome,  as pessoas iam para a Índia e conseguiam atingir um tal de nirvana e diziam estar com o senhor... li uns livros de um tibetano meio falsificado que dizia que na meditação conseguia ver a aura dos outros e até adivinhar o que estavam pensando. Lá na Índia mesmo tem um que diz que adivinha os sonhos dos outros e faz curas. O que o senhor me diz disso?
-...
- Tá bem, não precisa dizer nada não... outro dia eu conversei com umas pessoas da umbanda e elas me disseram que conversam com espíritos. A mesma coisa me disse um amigo espírita que eu tenho. Ele disse que vê coisas e até conversa com as almas. Eu nunca vi nada. A única coisa que eu sei é que as pessoas morrem de medo desses assuntos. Afinal, isso é verdade ou não?
- ...                              
- Tá bem, não falo mais nada. Vou me aquietar. Acho que já reclamei muito... ah, só uma coisa, a Bíblia. Foi o senhor mesmo que escreveu? Fala sério.
- ...
- É, porque aquilo lá é um livrão. Confuso que só vendo. Na primeira parte, é só história dos judeus. Tem uma passagem em que o senhor testa a paciência do Jó, coitado, a ponto de deixar o sujeito na miséria só pra provar que ele amava o senhor. Não gostei daquilo não. Tem outra parte em que Moisés vai lá pro alto e volta com as tábuas da lei escritas pelo senhor. Por que só naquela época o senhor escrevia? Parou agora?
- ...
- E o novo testamento, que conta a história de Jesus?  Uma porção de milagres e ressuscitações que  só aconteceram naquela época. E os quatro evangelhos, que só foram escritos um tempão depois que Jesus morreu? Iimagina o boca a boca que foi aquilo até alguém resolver escrever alguma coisa? E fiquei pasmo quando soube que os evangelistas não eram exatamente Lucas, Marcos, João e Mateus, mas um monte de gente que resolveu colocar o nome deles lá.
- ...
- Ah, eu disse que ia ficar quieto mas não consigo... foi descoberto outro dia que os fatos narrados nos evangelhos não coincidem com os fatos históricos. Por exemplo, não houve censo algum naqueles tempos, não há notícia de nenhuma matança de inocentes, nada disso está registrado na história oficial... chegam a dizer que Jesus nasceu no ano 6 depois de Cristo, como pode? Ele nasceu depois dele?
- ...
- Falei muito, né? Acho que vou me calar. Acho que se eu continuar vou acabar ofendendo muita gente que ler isso. Como sei que o senhor não vai me responder diretamente, como fez com o Neale Donald Walsch... vou me retirar.

- Não, fique aí.

- Como? O senhor falou comigo?

- Não sei, o que você acha?

- Eu não acho nada...

- Acha, sim... achou tanta coisa lá em cima, olhe só quanta coisa você achou.

- Desculpe, eu...

- Desculpa nada. Que desculpa? Você falou alguma mentira?

- Não sei... falei o que andei lendo, o que andei concluindo, o que andei vendo e andei pensando, só isso, não me leve a mal.

- Levar a mal? O que é exatamente levar a mal?

- Não acredito que o senhor esteja falando comigo... isso só aconteceu com Moisés, Maomé e Jesus.

- E o Neale Donald que você citou.

- É...

- Eu estou dentro de você e acho que você já ouviu muitas vezes falarem sobre isso.

- É, mas...

- Cale-se agora, pois quem vai falar sou eu.

-...

- Cale a mente também, não só a boca.

- ...

- Você não está calado como eu preciso que esteja.

- Como fazer isso?

- Não pergunte. Apenas ouça e não conclua nem raciocine sobre nada. Respire fundo. Aquiete-se. Acalme esse espírito que fiz e onde estou dentro.

- ...

- Shhhhhh....

- ??

- Shhhhhh.... silêncio... respirando... está tudo escuro.

-
- Muito bem. Eu estou dentro de você e nunca saí daí. Eu estou dentro de todos e sou todos ao mesmo tempo. Toda vez que tentam me definir, vocês estão usando o maior milagre que consegui criar: o livre-arbítrio. E toda vez que me definem vocês me criam. E isso é falso, pois vocês não podem me criar, eu os criei. E crio. E sustento.

- Toda definição de mim é feita com palavras e eu as estou usando aqui porque, por ora, não há forma melhor de vocês me entenderem. A palavra é um dom de sua espécie que permite um pouquinho mais de aproximação do que eu sou. Mas não se esqueçam: toda criação pode falar. Alguns seres o fazem de forma mais rudimentar, mas fazem.  Eu estou em todos.

- Não há tamanho que defina a superioridade de qualquer um dos seres que se manifestam nessa terra. Todos, infinitamente todos, têm a mesma importância, o mesmo tamanho. A terra é pequenina como um grão de areia... mesmo o maior dos planetas, milhares de vezes maior que ela, é miseravelmente pequeno porque tudo é infinito. Portanto, não há tamanho, não há distância. Não é assim que se define o que é mais ou menos. Porque não há mais ou menos.

- Suas dúvidas são simples, como simples ainda é você. Ver o mundo do jeito que você vê é o que você pode fazer por ora. Você vive em três dimensões. Tudo aí se resume ao número três:  altura, largura, profundidade... passado, presente, futuro... alto, médio, baixo... esquerda, direita, centro... pobre, remediado, rico... bonito, aceitável, feio... preto, cinza, branco... sim, não, talvez.

- Você não pode ver nada nem concluir nada diferente das coisas que me disse. Por isso não sei como poderia levá-lo a mal.

- Sua essência, você de verdade, criada por mim e parte de mim, está confinada, por enquanto, a essas dimensões. Sua mente, criada para servi-lo nesse estágio que dura para mim apenas alguns milésimos de segundo, para usar o instrumento que você pode entender, que é o tempo, é mesmo feita para lhe causar esses embaraços, para que você possa pensar, concluir, indignar-se, revoltar-se contra mim e contra todos, conformar-se, aceitar, experimentar.

- Esse turbilhão de acontecimentos, da tragédia à comédia, do desmoronamento à reconstrução, do egoísmo ao altruísmo, do preconceito à aceitação, da arrogância à humildade, do caos à ordem, da seca à enchente, da miséria à opulência, do sonho ao pesadelo, da sobrevivência à defesa, da doença à cura, do nascer ao morrer, tudo é feito para ser experimentado. E confundido.

- Nada está errado. Questionar já é o maior sinal de evolução. Tudo o que se move é sagrado, disse o Beto Guedes num momento em que me ouviu, ao fazer o silêncio que pedi a você que fizesse. E tudo o que não se move também, mas isso ele não disse pois saiu do silêncio muito rapidamente.

- Durante essa rápida experiência de três dimensões que você está vivendo,  aproveite alguns momentos de paz que lhe dou para prosseguir. Observe o absurdo dos absurdos que é a borboleta saindo do casulo. Você já viu uma coisa dessa acontecendo? Aproveite para ver a flor se abrir. Você já parou para fazer isso uma vez que seja? Não é no tamanho das coisas que o milagre acontece.

- Durante esses momentos rápidos de idas e vindas à essa terrinha, aproveite para respirar fundo, sentir o calor do fogo, ouvir a canção dos grilos, embalar um bebê. São  canduras que coloco no meio dessa imensa confusão.

- Aproveite e suba nas árvores, procure as laranjas. Aprenda a tecer uma rede e amarre-a entre duas árvores para dormir. Aproveite o riacho ao lado para despertar desse sono.

- Mesmo nos mais áridos desertos, coloquei uns bichinhos engraçados para viverem e serem observados.

- Não se preocupe. A vida não é para ser fácil. Nunca disse que seria. As belezas estão aí, como estão as tristezas.  Eu estou no contraste. Estou na dor, estou no que aparentemente é injusto. Você chegou a um estágio que lhe dá condição de questionar, de perseguir uma resposta que não há. Ainda.

- Sinta-me no silêncio das coisas que não se explicam. Sinta-me no momento em que sua mente se aquieta, quando suas palavras não conseguirem explicar suas dores e aflições.

- Sinta-me quando alguma coisa sem explicação acalmar seu coração como uma anestesia parecida com aquela de sua cirurgia, mas que lhe mantém acordado.

- Sinta-me quando as cores e os cinzas da vida voltarem a mexer com seus sentimentos, quando os contrastes das dores e amores lhe impulsionarem a viver.

- Sinta-me quando questionar as coisas.

- Ouça minhas palavras quando elas não forem palavras, mas um impacto de força que lhe dá a compreensão, não apenas o entendimento.

- Ouça-me em seu absoluto silêncio, na ausência de qualquer pensamento, no intervalo de sua respiração e no espaço entre palavras e letras.

- Ouça-me pois lhe direi que nada acontece para o mal.

- Ouça-me sozinho, em seu interior, pois só ali estarei inteiro para você, como estou inteiro para quem me quiser acessar.

- Ouça-me calando-se e aceitando seu livre-arbítrio, responsável por muitos dos desequilíbrios que você vem observando nas suas, por enquanto, pobres três dimensões.

- Ouça-me, com ouvidos de ouvir, que chegará a hora em que dimensões completamente diferentes se abrirão e você poderá, muito mais que entender, compreender as dores e viver os amores.

- ...

- Hein? Senhor? Que aconteceu?

- ...

-  Como é mesmo esse negócio de amores em outra dimensão? Acho que perdi alguma coisa...

- ...

- Senhor?

-...

- Senhor?