quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DIÁLOGO PARA NADA

 - O que mata é a expectativa.
 - Já eu acho que o que mata é o preconceito.
- Que nada. Vocês ainda não viram o que uma boa auto-comiseração pode fazer.
- O que mata, no fim de tudo, é só a expectativa.
 - Sei lá.
- Eu posso explicar.
- Vá em frente, guru. Não temos nada pra fazer mesmo.
- Você acha que as coisas deveriam ser como gostaria que fossem, mas nunca são. Isso é  preconceito. Você tem uma forma de ver e desejar que pessoas, coisas e comportamentos sejam como você espera. E o que é isso se não uma boa dose de expectativa?
- E a auto-comiseração? Essa mata e não tem muito a ver com preconceito...
- A auto-comiseração corroi porque você não se julga tão bom como esperava ser... tem a ver com expectativa.
- Mas nada com preconceito.
- Claro que sim... você cresceu e condicionou-se a crenças, que, mesmo não as aceitando totalmente, estão impregnadas. E quando num balanco parcial, você se vê menos forte, menos bonito, menos inteligente e menos corajoso do que projetou, vem aquela pena de si mesmo. Você tem preconceito contra o que você se tornou, de tão forte foi o impregnado. Você não atingiu toda a meta.
 - Vou ter preconceito de mim mesmo?
- Lógico, esse treco é forte.
- Que eu posso ter expectativas frustradas quanto a mim, isso eu já sabia, mas preconceito de mim...
- E aí entra a auto-comiseração... ou não, nem precisa disso, basta a sensação de menos-valia. Se você não consegue nem se aceitar, não venha me enganar dizendo que aceita os que ficam aquém de suas expectativas... e isso vale para seus amores,  pais, filhos, irmãos, professores...
- Perdoar, então, não existe...
 - Claro que não. O que há é uma tentativa civilizada de conciliação para que a vida em comum exista.
- Repito: o que mata é a expectativa. Se você não espera nada, não haverá sofrimento.
- E a auto-comiseração? Como fica nisso tudo?
- É só não esperar nada de você.
 - Mas é dificil, a gente sempre quer algo... assim a vida anda.
- E assim a vida para. O que mata é a expectativa.

2 comentários:

  1. Muito bom Jairão ! O que seria da nossa vida se não fossem as lutas ? O que nos moveria se não fosse a NECESSIDADE de um passo à frente nem sempre fácil ? Como você disse, "assim a vida anda". Viajando pelas praças do interior que você conhece bem, por várias vezes refletia sobre aqueles trabalhadores braçais, que trabalham roçando nos pastos no sol forte, ou na "panha" do café, como dizem em Manhuaçú. Na limitação das minhas idéias, pensava: QUE vida (horrível)dura desses homens. Após tantos anos e tendo maior discernimento das coisas cheguei à conclusão: Me realizo porque penso todos os dias que de alguma maneira levo mais saúde para as pessoas e algo que aplaque o sofrimento de alguns. Sei porém que aqueles homens na roça, sofrem sob o sol quente, mas dormem muito melhor do que eu, se alimentam melhor do que eu, se exercitam melhor que eu e cuidam de suas famílias (sempre)de perto; eles não sonham andar num corolla como eu - realizam-se com um cavalo quarto-de-milha ou um mestiço movido apenas a capim. A felicidade e a realização é diretamente ligada àquilo que sonhamos, desejamos ou cobiçamos. A diferença entre o saudável e o doentio nessa história, o remédio e o veneno - só nós podemos dosar.
    Forte abraço, meu professor. Abraço, Luigi

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  2. isso Luigi! muito boas observações! aliás, excelentes. avraço e obrigado.

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