segunda-feira, 31 de março de 2014

FALAR EM PÚBLICO PODE SER MOLE

Toda vez que vamos falar em público, seja lá em que situação for, sentimos dor de barriga. Quando é assunto informal, ainda vai. No entanto, quando se trata de informar, explicar, ensinar, treinar, convencer, vender e arrastar pessoas a pensar ou fazer, aí a coisa complica. Via de regra. Todo mundo sabe que conhecer o tema é fundamental. Todo mundo sabe que é imperioso respirar, controlar a ansiedade, beber água durante, organizar ideias antes, pensar nas mais malucas perguntas enquanto monta a apresentação, treinar em voz alta, aquecer a voz antes de começar e afastar os pensamentos negativos. Uns até tomam um propranolol ou um calmantezinho (não recomendo até que seja prescrito por um médico, hein?). São tantas as dicas que é impossível segui-las, ainda mais quando nem tanto tempo temos para nos jogarmos à frente de um grupo. Aí entra um macete, anterior à qualquer apresentação. Tem a ver com eudaimonia. Sim, felicidade plena. Tem a ver com entusiasmo. Sim, Deus dentro. Antes de nos jogarmos aos leões, a questão sobre como fazer isto da melhor maneira deve ser respondida com uma pergunta. Aliás, perguntar é a única coisa que faz a gente ir para frente. Só há respostas quando temos perguntas. Preferencialmente bem feitas, senão as respostas serão umas porcarias. Plateias, de modo geral, são doidinhas por respostas. As pessoas querem aprender e por isto estão ali, esperando. Via de regra de novo. Ou quase um “só que não”. Uma boa dica é inverter: comece perguntando, investigando, veja o que as pessoas querem saber, onde querem chegar, o que estão fazendo ali. Estimule-as a pensar. Ah, mas não se iluda, o silêncio normalmente é atordoante. Como disse, ninguém gosta de se sentir incomodado com perguntas. Mas todo mundo, ali sentadinho, adora perguntar mil coisas ao pobre infeliz lá no palco. Ou ficar pensando coisas sobre ele. Voltando à pergunta que você deve se fazer antes de ficar preocupado com técnicas de apresentação (antes que eu me perca em outro assunto aqui): dentro do tema que me pediram para falar há alguma coisa que me seduz? Afinal, quando a gente faz o que tem prazer em fazer, nada é difícil. O maior problema é que fazemos muitas coisas que não temos lá muita vontade de continuar fazendo, mas seguimos por causa do bom salário, do chefe legal, da empresa que paga em dia, do sustento mais seguro da família, da carreira promissora que poderá me levar aos píncaros da glória e outros milhões de motivadores que não são bem a essência de nossos talentos mais genuínos e de nossos sonhos de criança. O maior motivador de todos é o prazer. Ele nos tira até a fome, o sono e qualquer outra necessidade. Até nos esquecemos de ir ao banheiro quando fazemos algo por prazer. Ele joga a gente em um instante mágico chamado eudaimônico, que aprendi com o prof. Clóvis Filho. Sim, aquele instante é tão bom e tão orgasmático que vinte horas ficam parecendo vinte minutos. A questão é esta: vou falar alguma coisa que, no todo ou em parte, me causa prazer desmedido? Se sim, nenhuma técnica vai lhe ensinar nada. Você vai subir no palco e arrasar. Não há treinamento vocal, respiração, postura corporal e controle de tempo que substituam o brilho nos olhos, a força que impulsiona mil palavras, a sequência de ideias, exemplos, metáforas e gestos que se seguirão quando estiver falando de algo que preencha seu ser. Que poético. Mas é verdade. Mas será que é possível? A vida não é bem assim. Será que vamos ter oportunidade de falar somente daquilo que nos apaixona? Sinto dizer que não. Por isto, técnicas podem lhe fazer sair melhor que a média. Preparo prévio e moldura nos pensamentos ajudam. Só que não ajudam a aquecer corações. Fazem com que você seja melhor entendido e aceito. Já é alguma coisa. Enquanto isto, enquanto ainda vive de algo que ainda não lhe faz explodir de alegria, procure ir pensando nisto. Algumas pessoas que conheço, bem sucedidas financeira e profissionalmente e, acima de tudo, felizes, podem não estar fazendo durante o dia aquilo que mais amam guardam esse segredo a sete chaves, você sabe como é o mundo corporativo), mas fazem do que fazem um patrocínio para o que amam fazer nas horas vagas. Assim vão aprendendo a amar aos pedaços tudo aquilo que escolheram fazer. Tem a palavra escolha nisto aí. As pessoas mais felizes escolhem com o coração. As mais ou menos felizes ainda o colocam no meio de tanta razão. E as outras, bem, as outras... Algumas pessoas aproveitam e até buscam oportunidades que se encaixam em alguns de seus talentos e vocações. Essas pessoas não vivem eudaimonicamente cada minuto. Cá para nós, no mundo de hoje, isto é para poucos. Mas têm seus momentos e isto lhes abastece. Então, qual é o segredo delas? Acredito que buscam identificar, dentro das funções que exercem no cargo, as atividades que lhes permitem momentos orgasmáticos. Todo mundo precisa disto. Senão não conseguiriam liderar, pois cargos muito elevados não são exatamente plenos de coisas lindas e eudamônicas. E cargos menos glamourosos poderiam ser bastante tristes se o motivador dessas pessoas fosse poder. No entanto, felizes que são, lideram pra todo lado. Conheço pessoas muito felizes, obrigado, que não ocupam cargos elevados, mas são plenas em seu dia, gostam de vários aspectos de sua rotina. Em ambos os casos, aprenderam a encontrar a cor e os matizes do prazer em mil coisas diferentes em que seus talentos e sonhos se encaixam. Conheci pessoas financeiramente recompensadas, chefões poderosos, assim como outras ocupando cargos simples, que exalam... tristeza e depressão. Estas coisas não têm a ver com a altitude de seus níveis hierárquicos e responsabilidades. Normalmente, quando fala em público, uma pessoa que encontrou seu caminho no que faz - plena ou parcialmentemente eudaimônico - permeia suas falas com exemplos e analogias sobre o que gosta de fazer e de lembrar. Pontua as falas, por mais árido que o tema seja, com contrastes, humor, historinhas e temperos. Os espectadores chegam a pensar que é uma super dotada, um gênio, que ama tudo o que faz. Não é bem assim. A vida não é bem assim.

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