As minhas histórias são diferentes das dos outros por um motivo: só escrevo quando estou muito alegre ou muito triste ou muito saudoso. Ainda não sou aquele profissional que consegue escrever sem esforço... pra mim, tem de ser carregado na tinta. Gosto de fazer rir e às vezes, refletir.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Eu não sou mim. Mim não sou eu.
Quem são os egos, quem somos?
Somos egos inflados, alterados. A luta contra o ego faz-nos andar em estradas menos tortuosas e respirar ares mais límpidos. O ego é projeção da mente, essa moça que ao invés de estar a nosso serviço, gosta de ditar regras. Atenção, pois: o que pensas não é o que és. A tua opinião e vontade de sobressair-te não é mesmo uma vontade tua. Os que, como eu, aparecem sem querer, falam sem saber e escrevem sem porquês, o fazem porque simplesmente foram produzidos de muitas formas para tais coisas.
Muitas vezes questionei o ego, busquei nele culpa por ser assim, falante, choroso e risonho, envolvido com tantos. Descobri que quem buscava esse ego não era eu. Descobri que minha mente, aprendiz da vida, dos conceitos, preconceitos, histórias e palavras, é quem quer tudo saber.
Em silêncio, porque o barulho não faz bem e o bem não faz barulho, descobri, num pequeno salto, que todo esse ruído, todas as perguntas e todas as respostas são da mente, feita para fazer isso, para viajar no tempo e procurar respostas que não precisam existir.
Isso eu descobri no silêncio. Uso a mente, aqui, para expressar que no silêncio pude ver que nada sou eu, nada é feito pelo meu eu. Eu não sou mim e mim não sou eu, como diz Rita Lee.
Descobri que não posso me criticar, nem me recolher, nem me esconder. Descobri que faço o que faço porque assim estou, assim funciona uma mente que aprendeu a ser assim e só a silencio, agora, se quiser e puder. E nem sempre quero, deixo. E nem sempre posso, perco.
Descobri eu sou minha essência e essa é inacessível. Está quieta, guardada nos espaços e nos silêncios entre essas palavras, entre a sístole e a diástole, entre o inspirar e expirar. Ali estou eu. Ali está quem observa tudo e apenas sorri quieto, sem barulho, porque o resto é mente, é ego, é resultado do que foi feito de mim, para eu viver no mundo manifesto. Olho, observo, sorrio e aprendo, devagar, a controlar esse órgão que acha que está no controle.
Por isso permito que ela, a mente, me sirva e me faça fazer o que faço. E me faça sorrir e fazer rir. E me faça abraçar, recordar, chorar e ser. E mais não pode fazer, porque, no silêncio dos intervalos, eu, aqui, quieto, digo à mente que aqui escreve: o que está entre as palavras é quem sou eu. O resto é mim. E eu não sei o que sou. Porque apenas observo, não sou observado, apenas respiro e aprecio o silêncio que cultivo entre as peripécias da mente. E me divirto também com ela. E vivo nos intervalos. Sem saber quem sou eu. Ou quem é mim.
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