sábado, 15 de dezembro de 2012

O que é a Síndrome de Burnout?


ESTRESSE PROFISSIONAL E SÍNDROME DE BURNOUT


Assisti a dois programas de TV sobre estresse profissional. Em ambos, foi entrevistado o psicólogo Júnior Cesar Fialho, gestor de RH de uma pequena rede de supermercados em Mauá. No outro, em outra TV, além dele estava o médico psiquiatra José Eduardo Pereira Nora.

Quanto ao primeiro programa, denominado Sindicalismo e Cidadania, apresentado por Humberto Pastori, retirei considerações sobre o tema que coloco a seguir.

Segundo Fialho, o estresse é um termo que significa forçar,  ou seja, provocar uma resposta do organismo a um esforço exacerbado. Quanto ao estresse profissional, disse ele que o mundo muda e o segredo é que a velocidade dessa mudança vem provocando muito debate sobre o tema.

Uma informação que ele trouxe é que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) fizeram estudos que mostram que o estresse profissional será a primeira doença do ranking por motivo de doenças nos trabalhadores no ano de 2020; atualmente é a terceira.

O psicólogo disse que a realidade consumista fez o trabalho ocupar o primeiro lugar na herarquia de valores das pessoas; elas vivem muito mais para trabalhar do que para outras coisas. Sabemos que o estresse pode desencadear doenças, especialmente nas pessoas viciadas em trabalho e que isso afeta o corpo, explicou o Gestor de RH.

Conforme explicou, esse é um tema não tão novo, mas nem tão antigo. E prosseguiu: um estudo feito pelo Ministério da Saúde e pelo INSS mostra que temos cem mil afastamentos por ano devido a transtornos mentais, dentre eles o estresse, sendo quinze mil destas pessoas aposentadas por invalidez anualmente.

Fialho explicou que o estresse profissional atinge mais as pessoas que, no trabalho, precisam lidar com atendimento ao público, ou seja, médicos, policiais, enfermeiros, professores, sendo essas atividades as campeãs em estresse. Além desses, prossegue o entrevistado, outros profissionais como os que lidam com tecnologia de ponta e aqueles cobrados fortemente por resultados, como bancários, também se inserem no contexto. Ele usou a metáfora da ponte que se rompe devido a um peso grande no meio para explicar o estresse. Ou seja, uma pessoa cobrada por mais do que é capaz de oferecer pode entrar em estresse. 

O estresse profissional pode ser dividido em três entidades, conforme explicou: o distresse, no qual a pessoa sai de si, sendo a distensão do estresse; o hipoestresse, a falta de estresse que apresenta sintomas como muito sono, fome, ganho de peso, baixa auto-estima; e o eustresse, que representa o equilíbrio. 

Fialho citou o pensador William James, referência na área de gestão de pessoas. Segundo James, a arte de lidar com estresse está na habilidade que temos para escolher um pensamento ao invés de outro.

Pessoas motivadas produzem saúde enquanto as desmotivadas provocam doença; quando estamos felizes, o cérebro produz endorfina, hormônio que nos deixa fortes e dispostos, mas quando estamos tristes e desmotivados, a glândula suprarrenal produz adrenalina, explicou. O primeiro malefício disto, ensinou ele, é fazer com que o corpo permaneça em constante alerta; com o sistema imunológico baixo, nos colocando susceptíveis a muitas doenças. 

Prosseguiu explicando que o modo de ver esse problema vem mudando na cabeça dos próprios empresários, que antes pensavam que o mal acometia apenas as pessoas, nunca a empresa; hoje, prosseguiu Fialho, os empresários sabem que o estresse faz cair a produção, assim como aumenta o absenteísmo, a rotatividade de funcionários, podendo afetar até a imagem da empresa.

A Síndrome de Burnout, segundo ele, ocorre quando o profissional sofre níveis muito altos de estresse, levando-o ao esgotamento completo, o que força seu afastamento. Por burnout podemos entender queima total. Os mais sujeitos a essa síndrome, explicou ele, são os mais comprometidos, que não pensam em si ou na família, mas apenas nos projetos que precisam entregar.

Conforme ele ensinou, existem 3 estágios de estresse profissional que podem levar ao burnout: o primeiro é um alarme que faz o corpo perceber que não está aguentando; o segundo é a resistência, quando o corpo tenta segurar o esforço exagerado, havendo pessoas que conseguem resistir mais, considerados os resilientes; no entanto, quando as pessoas são menos resilientes ou o estímulo agressivo é muito forte, temos o terceiro estágio que é a exaustão, o que exige intervenção médica e afastamento.

Fialho explicou que para se evitar o agravamento do estresse profissional, é sempre melhor prevenir que remediar e o primeiro passo é saber que não se pode viver em estresse insuportável.

Um exemplo interessante citado por ele é uma pesquisa feita durante a guerra do Vietnã com soldados do front: aqueles que perdiam um dedo ficavam incrivelmente desmotivados e doentes, mas os que perdiam as pernas ficavam motivados. Isto se explica porque os que perdiam um dedo tinham de aprender a atirar com a outra mão e voltar à cena da guerra depois de uma semana, ou seja, seu futuro era a batalha e possivelmente a morte. Já para aquele que perdeu a perna, a perspectiva era de voltar aos Estados Unidos, receber uma prótese, uma medalha e ser tornar herói de guerra.

Segundo ele, temos 100 trilhões de células em nosso corpo, mas apenas um por cento é célula do sistema imunológico; por isto, pessoas que só falam sobre temas desagradáveis, só assistem coisas negativas e só abordam doenças, são propensas a produzir mais adrenalina, com baixa do sistema imunológico, se estressando e apresentando sintomas que vão  desde uma simples dor de cabeça ao infarto, úlceras, gastrite, náuseas, vômitos, tremores, tamborilar involuntário de dedos, boca seca, ombros rígidos e outros sinais.

Conforme explicou, os gestores de setor e de RH precisam perceber se o trabalho para determinada pessoa tem sido demasiadamente grande; claro que sabemos que empresas trabalham com quadros enxutos, é caro ter pessoas, que custam o dobro do que recebem; mas precisamos avaliar isto, pois teríamos menos atestados médicos e menos afastamentos.

A empresa pode oferecer alternativas para melhorar a qualidade no trabalho, como uma palestra, uma ginástica laboral.  E ainda deu uma dica de leitura: “O estresse está dentro de você”, de Marilda Lipp.

Finalizando esse programa, deixou uma orientação pessoal: precisamos viver mais o presente, pois quando se pensa muito no passado, ficamos depressivos e quando vivemos no futuro, ficamos ansiosos. “Viver o presente é curtir a vida”.

O segundo programa assistido, o Vejam Só, teve a presença do mesmo psicólogo e do médico psiquiatra José Eduardo Pereira Nora, entrevistados pelo apresentador Eber Cocarelli.

Na abertura, o apresentador teceu considerações sobre as doenças de várias épocas da história, sendo a 
atual o estresse, principalmente no mundo ocidental e nos grandes centros urbanos. Segundo ele, é praticamente impossível dizer que em São Paulo, Rio, Belo Horizonte ou Porto Alegre pode-se levar uma vida profissional sem estresse, pois enfrentamos um ambiente altamente competitivo e ainda os dilemas da vida urbana como violência, trânsito, insegurança e desemprego.

O psiquiatra José Eduardo Pereira Nora confirmou que muitos vão para as drogas como álcool e tranquilizantes por causa do estresse e por causa da Síndrome de Burnout, sendo isto muito frequente.

O programa mostrou uma reportagem, no início, sobre o desgosto e o desânimo com o trabalho, pressões, preocupações e insatisfação generalizada, o que gera fadiga, dor de cabeça, insônia, dores no corpo, palpitações, alterações intestinais, náuseas e outros sintomas de estresse e da já referida Síndrome de Burnout, caracterizada por perda de energia, distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, sendo sua causa intimamente ligada ao ambiente de trabalho.

Para o psiquiatra, o burnout é uma síndrome que se assemelha à figura de um fósforo queimado, ou seja, ele está ali mas não é mais útil. Segundo disse, o burnout é a consequência de um alto grau de estresse profissional que normalmente atinge pessoas que querem abraçar o mundo com as próprias mãos e se submetem à todas as exigências do meio, sem impor limites ou delegar, o que acaba levando o organismo à exaustão emocional em um primeiro momento e posteroirmente faz com que a pessoa percaa vontade e o prazer de estar no trabalho, tornando-se cínica, maltratando colegas, partindo para a agressão, já havendo relatos de suicídio em alguns casos.

Para o psiquiatra José Eduardo, este é um processo bem estabelecido em fases: o cérebro humano é preparado para suportar um determinado grau de estresse, como as condições em que está submetido no trabalho, mas também aquelas situações que exigem tomada de atitude, decisão, posicionamento, interpretação, que exigem que ele se aprimore.

O cérebro está preparado para isto e vai absorvendo, desenvolvendo o que chamamos de resiliência.  Segundo o psiquiatra, isto não é uma doença. No entanto, um cérebro submetido a um estresse constante não percebido passa da fase da resiliência para a vulnerabilidade. Explicando melhor, ele disse que é como se o cérebro ficasse superexcitado, como se algumas de suas regiões começassem a jogar contra a própria pessoa, deixando-a vulnerável e com a porta aberta para o burnout.

Foi feita uma pergunta para para Fialho, que é Gestor de RH: imagine que você tem um gerente muito exigente, crítico, alguém que entende que para o empregado render mais ele precisa ficar na cola dele, nunca elogiando, sendo autoritário e massacrante. Os colaboradores desse gerente começam a se estressar e apresentar sintomas. Daí vêm conversar com você. O que você faz? Manda que eles troquem de emprego ou troca o gerente?

A resposta de Fialho foi que tudo vai depender se o que está ocorrendo no departamento em questão é distresse ou hipoestresse, pois assim consegue-se perceber se o problema é do colaborador ou se sua gerência. Se o colaborador sofre distresse, há uma grande possibilidade da influência ser da gerência. 

Hoje, segundo ele disse, a liderança autocrática tem existido cada vez menos, mas caso for percebido que o gerente age com autoridade excessiva, se já falamos sobre isto, se já indicamos caminhos como ele deve agir e nada aconteceu, existe a possibilidade, sim, de se trocar esse gerente.

O psiquiatra José Eduardo disse que trabalha junto com o RH em programas de capacitação de liderança para gestores sobre como eles podem lidar mais tranquilamente com as dificuldades de seus colaboradores; se o gestor não se atenta para isto, as empresas já estão percebendo e se ele segue levando sua gestão sem observar esses sinais, isso acaba se voltando contra ele na forma de perda de rendimento devido a trocas de pessoas e treinamentos constantes; hoje os gestores estão mais abertos às questões de saúde mental, pois existem empresas especializadas em trabalhar junto ao Rh para oferecer melhores condições de trabalho, seja no campo psíquico, inter-relacional ou físico.

O psicólogo Cesar Fialho informou que existem no Brasil alternativas interessantes, como um grupo de psicólogos que o pessoal do telemarketing pode acessar através de uma central de atendimento. O psicólogo vai realizar uma escuta, para uma mudança de paradigmas.

Foi perguntado ao psiquiatra se é possível curar uma síndrome do pânico e estresse pós-traumático em 30 dias. A resposta foi que 20% dos casos apresentam melhoras significativas em 30 dias, mas pacientes com estresse pós traumático, como bancários assaltados na agência em que trabalham e nem conseguem mais sequer se aproximar do local onde o fato ocorreu, precisam de mais tempo, de um processo psicoterápico e até medicamentos. Ele citou o caso de um paciente que ficou no seu hospital-dia se tratando por oito meses.
 
O programa também mostrou uma matéria na saída de uma igreja evangélica: de forma geral, as pessoas disseram ser impossível evitar o estresse. Uma delas disse que com educação e compreensão pode haver uma saída. Um entrevistado disse que quando acontece uma situação ruim, ele sai, vai ao banheiro e respira cinco minutos para não estourar. Outro falou que ajuda muito orar e colocar Deus em primeiro lugar.

Segundo Fialho, quando o estresse não é causado pelo chefe, mas pela situação, pelo trânsito e pela vida com baixa qualidade, o ideal seria ter a sorte de algumas empresas, cujos colaboradores, por exemplo, moram próximo, já que essa questão do transporte, no ranking de estresse, é um dos mais fortes, sobretudo porque o trânsito, o mau transporte, o tempo em deslocamento, tudo pode estagnar uma pessoa que tinha a intenção de fazer um curso, uma faculdade, mas não consegue, pois gasta quatro horas só em trânsito, e nas piores condições.

Fialho disse notar que a maioria das pessoas é muito resiliente, pois observa que existem aquelas que leem cinco ou seis livros por mês, só no deslocamento. E dá uma dica: uma técnica para a motivar é fazer a pessoa se perguntar porque está passando por aquilo, porque está enfrentando aquele metrô todo dia, por tanto tempo. Se ela pensando em algo maior, em como concluir uma faculdade para trabalhar em determinada área, ajuda bastante na resiliência.

O psiquiatra disse que existem formas baratas e que podemos aplicar no quotidiano sem perder tempo e sem mudar demais o estilo de vida, como por exemplo: a simples respiração dentro de um ambiente com muita gente e muito barulho; a pessoa pode se dedicar a algum relaxamento respiratório com cuidado, sem nenhum conteúdo filosófico maior, pois apenas o  exercício adequado de respiração oxigena melhor o cérebro, controla a pressão arterial, reduz os batimentos cardíacos, melhora a temperatura corporal, acalma e relaxa.

José Eduardo disse ainda que alguns colegas seus foram morar no interior, mas se nós não optamos por isso e vivemos em São Paulo, por exemplo, trabalhando há duas horas de casa, precisamos desenvolver estratégias no trajeto e no tempo livre que tivermos dentro da empresa. É o caso de se perguntar: o que podemos fazer no tempo livre para controlar o estresse?

Para Fialho, muitas pessoas vivem no piloto automático, abrem os olhos, mas não acordam, vão fazer isto só no primeiro café, já na empresa. São pessoas que fazem tudo sem perceber, sofrem lapsos da memória, não sabem onde deixaram as coisas, pois nunca estão nelas mesmas. Sempre que formos fazer algo, precisamos pensar, verificar o que estamos fazendo, sentir o sabor das coisas na hora de se alimentar. O grande problema, um dos maiores males, é que nunca estamos no presente. Citou o caso da pessoa que vai a uma festa e se preocupa em tirar fotos para colocar no computador e ver a festa depois, sendo que já estava na festa e podia vê-la ali, no presente.

A professora Kellyn Cunha, gestora de RH, também participou com a pergunta: o estresse pode ser silencioso? No caso dela, como professora universitária e gestora de RH, só percebeu que estava estressada nos exames de check-up solicitados pela universidade. Fialho respondeu que o estresse no início é muitas vezes silencioso. O estresse não é uma doença em si, explicou, mas sim um sinalizador. Com certeza, segundo ele, em vários casos ele começa silenciosamente.

O Apresentador fez críticas ao check-up legal. Segundo ele, tem sido feito apenas para cumprir regra. O psiquiatra respondeu que na realidade, esse exame deveria ser feito para prevenir, explicando que sempre que se trabalha com uma gama muito grande de exames, direcionados para muitas pessoas, há uma contingência de exames negativos superior a 85%, mas nos casos em que se detecta alguma coisa e se intervém precocemente, investindo no tratamento, há chance de sucesso em vários sentidos.

Concluo que com o avanço das relações interpessoais, inclusive no trabalho, cresce a consciência de que nada se sustenta sem cuidado. Nem o planeta, ecologicamente falando, suportará toda pressão por produção sem um cuidado com sua preservação. Assim tem sido ultimamente com as pessoas. Já evoluímos da escravidão para o trabalho remunerado e deste para legislações protetoras da relação, permeando o respeito a limites humanos, até por uma questão simples de economia e sustentabilidade. Gente bem preparada, descansada e protegida de excessos pode produzir mais e melhor, vivendo em paz. Ou seja: trabalho existe para se viver melhor, em comunhão de interesses de quem presta o serviço e quem emprega seu capital.
É errado viver para trabalhar, enriquecendo uma minoria preocupada apenas com sustento de seus empreendimentos e morrendo de medo de perder o emprego ou não conseguir “sucesso” profissional. Isto, está sendo provado a cada dia, não se sustenta. Sem planeta e sem gente, nada feito. Desaparecerão todos os investimentos. Acabará a produção, não existirá consumo nem consciente, a roda não vai mais girar e tudo vai parar. O pensamento tem de ser holístico. Como colaborador, não posso perder de vista que meu empregador precisa lucrar para me manter, me desenvolver e me pagar melhor. Como empregador preciso pensar que sem qualidade de vida, meu colaborador desiste, morre, desaparece e meus lucros não podem ocorrer a qualquer custo, até porque não existirão mais.


Jairo Attademo
Gestão de RH - MBA - Unip










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