ESTRESSE PROFISSIONAL E SÍNDROME DE BURNOUT
Assisti a dois programas de TV
sobre estresse profissional. Em ambos, foi entrevistado o psicólogo Júnior
Cesar Fialho, gestor de RH de uma pequena rede de supermercados em Mauá. No
outro, em outra TV, além dele estava o médico psiquiatra José Eduardo Pereira
Nora.
Quanto ao primeiro programa,
denominado Sindicalismo e Cidadania, apresentado por Humberto Pastori, retirei
considerações sobre o tema que coloco a seguir.
Segundo Fialho, o estresse é um
termo que significa forçar, ou seja,
provocar uma resposta do organismo a um esforço exacerbado. Quanto ao estresse
profissional, disse ele que o mundo muda e o segredo é que a velocidade dessa
mudança vem provocando muito debate sobre o tema.
Uma informação que ele trouxe é
que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a OIT (Organização Internacional do
Trabalho) fizeram estudos que mostram que o estresse profissional será a
primeira doença do ranking por motivo de doenças nos trabalhadores no ano de 2020; atualmente é a terceira.
O psicólogo disse que a realidade
consumista fez o trabalho ocupar o primeiro lugar na herarquia de
valores das pessoas; elas vivem muito mais para trabalhar do que para outras
coisas. Sabemos que o estresse pode desencadear doenças, especialmente nas
pessoas viciadas em trabalho e que isso afeta o corpo, explicou o Gestor de RH.
Conforme explicou, esse é um tema
não tão novo, mas nem tão antigo. E prosseguiu: um estudo feito pelo Ministério
da Saúde e pelo INSS mostra que temos cem mil
afastamentos por ano devido a transtornos mentais, dentre eles o estresse,
sendo quinze mil destas pessoas aposentadas por invalidez anualmente.
Fialho explicou que o estresse
profissional atinge mais as pessoas que, no trabalho, precisam lidar com atendimento ao
público, ou seja, médicos, policiais, enfermeiros, professores, sendo essas
atividades as campeãs em estresse. Além desses, prossegue o entrevistado, outros
profissionais como os que lidam com tecnologia de ponta e aqueles cobrados
fortemente por resultados, como bancários, também se inserem no contexto. Ele usou a metáfora da ponte que se rompe devido a um peso grande no meio para explicar o estresse. Ou seja, uma pessoa cobrada por mais do que é capaz de oferecer pode
entrar em estresse.
O estresse
profissional pode ser dividido em três entidades, conforme explicou: o distresse, no qual a pessoa
sai de si, sendo a distensão do estresse; o hipoestresse, a falta de
estresse que apresenta sintomas como muito sono, fome, ganho de peso, baixa auto-estima; e
o eustresse, que representa o equilíbrio.
Fialho citou o pensador William
James, referência na área de gestão de pessoas. Segundo James, a arte de lidar
com estresse está na habilidade que temos para escolher um pensamento ao invés
de outro.
Pessoas motivadas
produzem saúde enquanto as desmotivadas provocam doença; quando estamos felizes, o
cérebro produz endorfina, hormônio que nos deixa fortes e dispostos,
mas quando estamos tristes e desmotivados, a glândula suprarrenal produz adrenalina, explicou. O primeiro malefício disto, ensinou ele, é fazer com que o corpo permaneça em constante alerta; com o sistema
imunológico baixo, nos colocando susceptíveis a muitas doenças.
Prosseguiu explicando que o modo de ver esse problema vem mudando na cabeça dos próprios empresários, que antes pensavam que o mal acometia apenas as pessoas, nunca a
empresa; hoje, prosseguiu Fialho, os empresários sabem que o estresse faz cair a produção, assim como aumenta o
absenteísmo, a rotatividade de funcionários, podendo afetar até a imagem da empresa.
A Síndrome de Burnout, segundo
ele, ocorre quando o profissional sofre níveis muito altos de estresse, levando-o ao esgotamento completo, o que força seu afastamento. Por burnout podemos entender queima total. Os mais sujeitos a essa síndrome, explicou ele, são os mais
comprometidos, que não pensam em si ou na família, mas apenas nos projetos que precisam
entregar.
Conforme ele ensinou, existem 3
estágios de estresse profissional que podem levar ao burnout: o primeiro é um
alarme que faz o corpo perceber que não está aguentando; o segundo é a resistência,
quando o corpo tenta segurar o esforço exagerado, havendo pessoas que conseguem
resistir mais, considerados os resilientes; no entanto, quando as pessoas são menos
resilientes ou o estímulo agressivo é muito forte, temos o terceiro estágio que
é a exaustão, o que exige intervenção médica e afastamento.
Fialho explicou que para se
evitar o agravamento do estresse profissional, é sempre melhor prevenir que
remediar e o primeiro passo é saber que não se pode viver em estresse
insuportável.
Um exemplo interessante citado
por ele é uma pesquisa feita durante a guerra do Vietnã com soldados do front:
aqueles que perdiam um dedo ficavam incrivelmente desmotivados e doentes, mas
os que perdiam as pernas ficavam motivados. Isto se explica porque os que
perdiam um dedo tinham de aprender a atirar com a outra mão e voltar à cena da
guerra depois de uma semana, ou seja, seu futuro era a batalha e possivelmente a
morte. Já para aquele que perdeu a perna, a perspectiva era de voltar aos
Estados Unidos, receber uma prótese, uma medalha e ser tornar herói de guerra.
Segundo ele, temos 100 trilhões
de células em nosso corpo, mas apenas um por cento é célula do sistema
imunológico; por isto, pessoas que só falam sobre temas desagradáveis, só
assistem coisas negativas e só abordam doenças, são propensas a produzir mais adrenalina,
com baixa do sistema imunológico, se estressando e apresentando sintomas que
vão desde uma simples dor de cabeça ao
infarto, úlceras, gastrite, náuseas, vômitos, tremores, tamborilar involuntário
de dedos, boca seca, ombros rígidos e outros sinais.
Conforme explicou, os
gestores de setor e de RH precisam perceber se o trabalho para determinada
pessoa tem sido demasiadamente grande; claro que sabemos que empresas
trabalham com quadros enxutos, é caro ter pessoas, que custam o dobro do que
recebem; mas precisamos avaliar isto, pois teríamos menos atestados médicos e
menos afastamentos.
A empresa pode oferecer alternativas para
melhorar a qualidade no trabalho, como uma palestra, uma ginástica laboral. E ainda deu uma dica de leitura: “O estresse
está dentro de você”, de Marilda Lipp.
Finalizando esse programa, deixou
uma orientação pessoal: precisamos viver mais o presente, pois quando se pensa
muito no passado, ficamos depressivos e quando vivemos no futuro, ficamos
ansiosos. “Viver o presente é curtir a vida”.
O segundo programa assistido, o Vejam Só, teve a presença do mesmo
psicólogo e do médico psiquiatra José Eduardo Pereira Nora, entrevistados pelo
apresentador Eber Cocarelli.
Na abertura, o apresentador teceu
considerações sobre as doenças de várias épocas da história, sendo a
atual
o estresse, principalmente no mundo ocidental e nos grandes centros urbanos. Segundo
ele, é praticamente impossível dizer que em São Paulo, Rio, Belo Horizonte ou
Porto Alegre pode-se levar uma vida profissional sem estresse, pois enfrentamos
um ambiente altamente competitivo e ainda os dilemas da vida urbana como
violência, trânsito, insegurança e desemprego.
O psiquiatra José Eduardo Pereira
Nora confirmou que muitos vão para as drogas como álcool e tranquilizantes por
causa do estresse e por causa da Síndrome de Burnout, sendo isto muito frequente.
O programa mostrou uma
reportagem, no início, sobre o desgosto e o desânimo com o trabalho, pressões,
preocupações e insatisfação generalizada, o que gera fadiga, dor de cabeça,
insônia, dores no corpo, palpitações, alterações intestinais, náuseas e outros
sintomas de estresse e da já referida Síndrome de Burnout, caracterizada por
perda de energia, distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de
esgotamento físico e mental intenso, sendo sua causa intimamente ligada ao
ambiente de trabalho.
Para o psiquiatra, o burnout é
uma síndrome que se assemelha à figura de um fósforo queimado, ou seja, ele
está ali mas não é mais útil. Segundo disse, o burnout é a consequência de um
alto grau de estresse profissional que normalmente atinge pessoas que querem
abraçar o mundo com as próprias mãos e se submetem à todas as exigências do
meio, sem impor limites ou delegar, o que acaba levando o organismo à exaustão
emocional em um primeiro momento e posteroirmente faz com que a pessoa percaa
vontade e o prazer de estar no trabalho, tornando-se cínica, maltratando
colegas, partindo para a agressão, já havendo relatos de suicídio em alguns
casos.
Para o psiquiatra José Eduardo,
este é um processo bem estabelecido em fases: o cérebro humano é preparado para
suportar um determinado grau de estresse, como as condições em que está
submetido no trabalho, mas também aquelas situações que exigem tomada de
atitude, decisão, posicionamento, interpretação, que exigem que ele se aprimore.
O cérebro está preparado para
isto e vai absorvendo, desenvolvendo o que chamamos de resiliência. Segundo o psiquiatra, isto não é uma doença. No
entanto, um cérebro submetido a um estresse constante não percebido passa da fase
da resiliência para a vulnerabilidade. Explicando melhor, ele disse que é como
se o cérebro ficasse superexcitado, como se algumas de suas regiões começassem
a jogar contra a própria pessoa, deixando-a vulnerável e com a porta aberta para
o burnout.
Foi feita uma pergunta para para Fialho, que é Gestor de RH: imagine que você tem um gerente muito
exigente, crítico, alguém que entende que para o empregado render mais ele
precisa ficar na cola dele, nunca
elogiando, sendo autoritário e massacrante. Os colaboradores desse gerente começam
a se estressar e apresentar sintomas. Daí vêm conversar com você. O que você
faz? Manda que eles troquem de emprego ou troca o gerente?
A resposta de Fialho foi que tudo
vai depender se o que está ocorrendo no departamento em questão é distresse ou
hipoestresse, pois assim consegue-se perceber se o problema é do colaborador ou
se sua gerência. Se o colaborador sofre distresse, há uma grande
possibilidade da influência ser da gerência.
Hoje, segundo ele disse, a
liderança autocrática tem existido cada vez menos, mas caso for percebido que o
gerente age com autoridade excessiva, se já falamos sobre isto, se já indicamos
caminhos como ele deve agir e nada aconteceu, existe a possibilidade, sim, de se
trocar esse gerente.
O psiquiatra José Eduardo disse
que trabalha junto com o RH em programas de capacitação de liderança para gestores
sobre como eles podem lidar mais tranquilamente com as dificuldades de seus
colaboradores; se o gestor não se atenta para isto, as empresas já estão
percebendo e se ele segue levando sua gestão sem observar esses sinais, isso acaba
se voltando contra ele na forma de perda de rendimento devido a trocas de
pessoas e treinamentos constantes; hoje os gestores estão mais abertos às
questões de saúde mental, pois existem empresas especializadas em trabalhar
junto ao Rh para oferecer melhores condições de trabalho, seja no campo
psíquico, inter-relacional ou físico.
O psicólogo Cesar Fialho informou
que existem no Brasil alternativas interessantes, como um grupo de psicólogos que
o pessoal do telemarketing pode acessar através de uma central de atendimento.
O psicólogo vai realizar uma escuta, para uma mudança de paradigmas.
Foi perguntado ao psiquiatra se é
possível curar uma síndrome do pânico e estresse pós-traumático em 30 dias. A
resposta foi que 20% dos casos apresentam melhoras significativas em 30 dias,
mas pacientes com estresse pós traumático, como bancários assaltados na agência
em que trabalham e nem conseguem mais sequer se aproximar do local onde o fato
ocorreu, precisam de mais tempo, de um processo psicoterápico e até
medicamentos. Ele citou o caso de um paciente que ficou no seu hospital-dia se
tratando por oito meses.
O programa também mostrou uma
matéria na saída de uma igreja evangélica: de forma geral, as pessoas disseram
ser impossível evitar o estresse. Uma delas disse que com educação e
compreensão pode haver uma saída. Um entrevistado disse que quando acontece uma
situação ruim, ele sai, vai ao banheiro e respira cinco minutos para não estourar.
Outro falou que ajuda muito orar e colocar Deus em primeiro lugar.
Segundo Fialho, quando o estresse
não é causado pelo chefe, mas pela situação, pelo trânsito e pela vida com
baixa qualidade, o ideal seria ter a sorte de algumas empresas, cujos colaboradores,
por exemplo, moram próximo, já que essa questão do transporte, no ranking de
estresse, é um dos mais fortes, sobretudo porque o trânsito, o mau transporte,
o tempo em deslocamento, tudo pode estagnar uma pessoa que tinha a intenção de
fazer um curso, uma faculdade, mas não consegue, pois gasta quatro horas só em
trânsito, e nas piores condições.
Fialho disse notar que a maioria
das pessoas é muito resiliente, pois observa que existem aquelas que leem cinco
ou seis livros por mês, só no deslocamento. E dá uma dica: uma técnica para a
motivar é fazer a pessoa se perguntar porque está passando por aquilo, porque
está enfrentando aquele metrô todo dia, por tanto tempo. Se ela pensando em
algo maior, em como concluir uma faculdade para trabalhar em determinada área,
ajuda bastante na resiliência.
O psiquiatra disse que existem
formas baratas e que podemos aplicar no quotidiano sem perder tempo e sem mudar
demais o estilo de vida, como por exemplo: a simples respiração dentro de um
ambiente com muita gente e muito barulho; a pessoa pode se dedicar a algum
relaxamento respiratório com cuidado, sem nenhum conteúdo filosófico maior, pois
apenas o exercício adequado de
respiração oxigena melhor o cérebro, controla a pressão arterial, reduz os
batimentos cardíacos, melhora a temperatura corporal, acalma e relaxa.
José Eduardo disse ainda que alguns
colegas seus foram morar no interior, mas se nós não optamos por isso e vivemos
em São Paulo, por exemplo, trabalhando há duas horas de casa, precisamos
desenvolver estratégias no trajeto e no tempo livre que tivermos dentro da
empresa. É o caso de se perguntar: o que podemos fazer no tempo livre para
controlar o estresse?
Para Fialho, muitas pessoas vivem
no piloto automático, abrem os olhos, mas não acordam, vão fazer isto só no
primeiro café, já na empresa. São pessoas que fazem tudo sem perceber, sofrem
lapsos da memória, não sabem onde deixaram as coisas, pois nunca estão nelas
mesmas. Sempre que formos fazer algo, precisamos pensar, verificar o que estamos
fazendo, sentir o sabor das coisas na hora de se alimentar. O grande problema,
um dos maiores males, é que nunca estamos no presente. Citou o caso da pessoa que
vai a uma festa e se preocupa em tirar fotos para colocar no computador e ver a
festa depois, sendo que já estava na festa e podia vê-la ali, no presente.
A professora Kellyn Cunha,
gestora de RH, também participou com a pergunta: o estresse pode ser
silencioso? No caso dela, como professora universitária e gestora de RH, só
percebeu que estava estressada nos exames de check-up solicitados pela
universidade. Fialho respondeu que o estresse no início é muitas vezes
silencioso. O estresse não é uma doença em si, explicou, mas sim um sinalizador.
Com certeza, segundo ele, em vários casos ele começa silenciosamente.
O Apresentador fez críticas ao
check-up legal. Segundo ele, tem sido feito apenas para cumprir regra. O
psiquiatra respondeu que na realidade, esse exame deveria ser feito para
prevenir, explicando que sempre que se trabalha com uma gama muito grande de
exames, direcionados para muitas pessoas, há uma contingência de exames
negativos superior a 85%, mas nos casos em que se detecta alguma coisa e se
intervém precocemente, investindo no tratamento, há chance de sucesso em vários
sentidos.
Concluo que com o avanço das
relações interpessoais, inclusive no trabalho, cresce a consciência de que nada
se sustenta sem cuidado. Nem o planeta, ecologicamente falando, suportará toda
pressão por produção sem um cuidado com sua preservação. Assim tem sido
ultimamente com as pessoas. Já evoluímos da escravidão para o trabalho
remunerado e deste para legislações protetoras da relação, permeando o respeito
a limites humanos, até por uma questão simples de economia e sustentabilidade.
Gente bem preparada, descansada e protegida de excessos pode produzir mais e
melhor, vivendo em paz. Ou seja: trabalho existe para se viver melhor, em
comunhão de interesses de quem presta o serviço e quem emprega seu capital.
É errado viver para trabalhar,
enriquecendo uma minoria preocupada apenas com sustento de seus empreendimentos
e morrendo de medo de perder o emprego ou não conseguir “sucesso” profissional.
Isto, está sendo provado a cada dia, não se sustenta. Sem planeta e sem gente,
nada feito. Desaparecerão todos os investimentos. Acabará a produção, não existirá
consumo nem consciente, a roda não vai mais girar e tudo vai parar. O
pensamento tem de ser holístico. Como colaborador, não posso perder de vista
que meu empregador precisa lucrar para me manter, me desenvolver e me pagar
melhor. Como empregador preciso pensar que sem qualidade de vida, meu
colaborador desiste, morre, desaparece e meus lucros não podem ocorrer a
qualquer custo, até porque não existirão mais.
Viver e trabalhar e não trabalhar para viver, em resumo é isso.
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